terça-feira, 29 de setembro de 2009

Quarto 314, Residência universitária

Aquela chave estava me esperando há muito tempo. 314 seria o meu endereço por um ano. Já morei na 410 norte, bloco L - de luxuria - apartamento 308 por grande momentos e agora estaria confinado em nove metros quadrados em busca de mais uma cicatriz, outra experiência. Foram quase três anos viajando e será mais um na pequena cidade de Lannion. Talvez seja a numerologia, já não duvido de mais nada. Será o último ano? Fechamos em quatro? Longe de casa e perto do mundo. A vida parece ser uma seqüência de planos, certos e errados, bailando até o precipício da saudade.

Entre tantas esquinas, eu cheguei até aqui. Um projeto que nasceu de uma conversa de boteco, de um fogo que me exige liberdade e indigência ou de um simples medo da morte. De um mero fim sem poder contar histórias. Falo pouco, beijo menos ainda... Eu quero marcas na alma, comida com sabor e sorrisos coloridos.

Estou feliz por finalmente ter um lugar com meu cheiro. Ainda que pequeno e estudante, ele tem uma cafeteira branca ao lado da janela. A cozinha não fica distante e os perfumes internacionais de carne frita me inebriam pelo corredor. Aquela morena do Gabão só podia ser gordinha mesmo...

O despertador me deixa dormir tranqüilo. Relutei em comprar um celular na primeira semana mas foi só preguiça. Agora meu sonhos duram até a nave aportar trazendo a rádio diária. Bom dia Vietnam! FranceInter é a minha companheira de todas manhãs, sempre de mal hálito. Como um bom guardião da verdade e do amor, vulgo aspirante à jornalista, eu ouço as notícias matinais.

Hora de encarar o convívio social e as práticas civilizadas. Meus coleguinhas estão sempre a fumar e contar historinhas de suas vidas. Bonjour... E eu, sempre o estranho. Estrangeiro. Professo uma misantropia elegante. A língua ainda é uma grande barreira e estou perdendo a minha magra paciência para conversas sobre o clima, sobre o Kaka e o Ronaldinho, sobre o fim-do-mundo... Assim, tomo meu tempo para saber qual será o coleguinha menos fascista para chamar de amigo.

A pontualidade nos leva até as salas luxuosas. As cadeiras são duras e as mesas estão bambas. Mesmo assim, computadores em forma de maçã estão por toda parte, uma abundancia de país rico.

As aulas começam as 9 da manhã e vão até as 18:00 com uma pausa para comer uma salada,um pãozinho, um prato principal, uma sobremesa, um café e um cigarro. Tudo em porções homeopáticas.

A imprensa francesa tem lá a sua cara. Os jornais regionais são os lideres do mercado e conseguem forjar uma identidade. Nesse moedor, eu entro mês que vem. Fui aceito pelo Jornal Le Télégramme por um período de 12 semanas, parte do currículo do curso. Dessa vez foi a o endereço do jornal que me ajudou: pela terceira vez vou trabalhar em frente à água; o rio Léguer vai dar no canal da mancha. Em Vancouver foi o Pacífico, em Londres foi o Tamisa. Agora só preciso de uma bicicleta e três toneladas de coragem para entrar na redação e virar jornalista. Aqui é aroeira, pica-pau!

Há cinco anos eu começava a UnB. Não li a metade dos livros que estavam na listinha encardida nem aproveitei todo aquele gramado e suas goiabas. Um tempo de incertezas que se perdiam nas bolhas dos sonhos. Amores e filosofias entre quadras e copos. Vou por entre becos e cartões postais sabendo que um dia eu volto para minha terra. Saudades.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Um dia eu ainda vou-me...

Is it cheaper to buy a sailboat (25 - 32 ft) in China or in Canada (west coast)?

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Um dia.

Quando eu for pro inferno, quero que o capeta me mostre meus inimigos.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Eterno partir.

Uns chegam e eu parto. Mais uma vez. Vou-me embora mesmo sabendo que as palmeiras e as hortas por aqui são sempre muito mais verdes. Sigo.
"O importante não é a casa onde moramos. Mas onde em nós a casa mora."

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Tibet é fashion!

-Os brasileiros nao sao muito ligados a mediçao, nao é?
-O que Da la é lama.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

E depois?

Pegar carona? Nao, foi preciso tres boas almas para chegar ate a fazenda. Mundo , mundo, vasto mundo, mais vasto é o meu coraçao. De melao e apertado pela vastidao. Ha tempos que tudo que tenho se resume em duas mochilas. Um dedo na cara. Foi voce quem escolheu. Aceito e sigo.
Voce conhece o Brasil? Natal. Tenho um filho que mora la, casado com uma brasileira. Brasil me manque. Saudade. Em frances?. Nostalgia. Nao é mesma coisa. Tanto faz, saudade é soh da minha terra mesmo. Palmeiras,amigos e familia.
Pequeno, mae perguntava se eu tinha saudade. Saudade? Meu mundo é descoberta. Saudade é medo da morte. Quando se é pequeno, o medo é fantasia ou pesadelo.
Hoje eu tenho saudade de casa, das rugas que me expantam, que nascem é nao me avisam. Hoje os monstros estao em todos os lugares. Eles dormem comigo. E a morte transformou-se em apenas mais um passo da vida. Um dia a gente morre e ponto final. Sem frescura. Comecei e vou fazer uma profissao de fé. Tudo apodrece.... a carne morre. Simples. Nao ha nada depois. O que ha sao fantasias hoje para ilustrar o futuro. Nao ha depois. Ha saudade.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Merci.

Olha, é assim que funciona a toillete, mas se voce quiser, pode ir la fora, faz um buraco e depois... enterra.
-Merci.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Fazendas organicas na França

Eu estou cansado da cidade e quero ir pro mato. Cinco meses trabalhando de barman em Londres e minha conta no banco continuava magra. Ao contrário dos planos. Próximo ano (2009) estava marcado na agenda: tempo de aprender Francês. Se estivesse em São Paulo, a passagem até Paris custaria algo em torno de R$ 3000. No meu caso, o percursso foi bem menor e bem mais barato.

A estratégia para França nasceu em um dia corriqueiro na terra da rainha. Lendo o suplemento de turismo do jornal inglês The Guardian (guardian.co.uk), o interior francês saltou aos olhos. Trabalho voluntário em fazendas orgânicas foi a forma encontrada de juntar o útil ao agradável. Nascido em 1971, na Inglaterra, WWOOF (‘World wide Opportunitties in Organic Farms’, em português, oportunidades mundiais em fazendas orgânicas) já está presente em mais de 30 países, dentre eles o Brasil.

Até a porta da fazenda, o processo é todo virtual. Destino escolhido, então é preciso fazer o primeiro investimento. A lista das fazendas participantes de um determinado país é vendida, 15 euros foi o preço francês. O próximo passo é entrar em contato com os participantes de alguma região. Aqui por essas bandas, nessa época do ano é bem frio, outro hemisfério. A minha escolha foi óbvia então, vou para o sul da França. No entanto, há tempos que a lareira é o cantinho mais disputado da casa.

O endereço da fazenda anotado é apenas uma vaga idéia do destino final. O trem apitou a estação e desembarquei assustado. Beziers é uma pequena cidade francesa que fica a 180km de Marseille. Ainda na metade do caminho, já foi preciso praticar o francês. Onde posso pegar um ônibus para Saint Pons de Thomière? Esse era a vila mais próxima da fazenda e onde Rosalind estaria me esperando. O motorista do ônibus nao entendeu para onde eu estava indo e acabei perdendo o ponto. Fui até o destino final, no topo de uma montanha vizinha e a dona da fazenda estava quase desistindo de mim quando cheguei uma hora atrasado depois da odisséia.

Há mais de trinta anos que Rosalind abandonou sua terra natal, Inglaterra. Ela faz parte daquela categoria bastante invejada e pouco copiada: hippie-rodou-o-mundo-ja-fez-tudo. A fazenda foi comprada há uns dois anos e desde então ela vem recebendo wwoofers do mundo inteiro. Entre os 17 hectares de florestas de carvalho, um riacho, dois cavalos e dois cabritos, as possibilidades orgânicas sao diversas. Hoje a horta esta coberta de neve, mas a última colheita de tomate, berinjela, cebola e batata ainda freqüenta a mesa de jantar.

O maior objetivo é criar novas formas de vida ecologicamente sustentável. Desde quando cheguei, já preparamos um terreno para as batatas, uma nova casa para as galinhas e cercamos uma área para os cavalos. Israel, EUA, Nova Zelândia ja tiveram seus representantes, alem do brasileiro aqui. Todos em busca de experiências e diferentes visões do processo entre a semente e a colheita.

Outra faceta dessa iniciativa é a possibilidade de estudar uma língua estrangeira. Viver em uma fazenda orgânica, participando do cotidiano de uma família francesa pode ser muito mais eficiente que anos de escola de idiomas. Apesar de inglês ser a língua corrente onde estou atualmente, a próxima parada será com certeza francofone. O visto de turista para brasileiros, de três meses, é feito no aeroporto e a gramática pode vir na bagagem de mão.

O dia-a-dia na fazenda continua sendo determinado pelo clima. Ontem foi a neve que nao deu trégua. O trabalho se limitou a cortar lenha para a lareira. Ainda assim, outra liçao da economia verde: a madeira vem de arvores mortas e o trabalho de um dia é suficiente para uma semana de aquecimento. Wwoof na França promete muito mais do que croissants e fotos com a Torre Eiffel. As batatas que foram plantadas já devem estar tomando corpo, assim como o meu francês. Au revoir.